En este artículo se
sacan a la luz los orígenes occidentales del actual fundamentalismo islámico tras
la etapa de colonización, su convergencia con el pretendido estadio liberador de
individualismo extremo, querido con inmediatez absoluta por anarquistas o con
etapas intermedias de feroces dictaduras por comunismos de diverso pelaje, realización
última del grado más bajo de entropía alcanzable. El fundamentalismo se
considera una etapa que supera y va más allá de las metas de la vieja utopía
del comunismo marxista. De hecho muchos seguidores de las corrientes marxista
se convirtieron de la noche al día en
ardorosos musulmanes. Por lo que se puede advertir la nueva yihad
fundamentalista islámica empieza a dejar chiquitos todos los records de crímenes y barbaries de
los Stalin, Mao, Pol Pot y demás dictadores de las antesalas de la liberación,
aunque es posible que esto solo sea el principio.
A verdade
sonegada sobre o
fundamentalismo islâmico
Luís Dufaur
12 de outubro de 2008
O vírus da revolução anticristã ocidental inoculado no maometanismo gerou o
monstro fundamentalista
Desde os atentados de 11 de setembro, o grande assunto da mídia é o Islã. Suas
múltiplas correntes — enormemente subdivididas — são citadas e comparadas. De
forma superficial, especula-se sobre as moderadas e as radicais, e se
investigam suas complexas rachaduras étnicas e culturais. Sumidades islâmicas,
na verdade totalmente desconhecidas, são apresentadas ao Ocidente e os termos
árabes são utilizados como se todo mundo os entendesse. Depois desse bombardeio
psicológico, o leitor fecha o jornal — ou desliga a TV — com a sensação de não
ter recebido uma informação objetiva e clara da realidade.
Um aspecto capital da temática parece ser meticulosamente ocultado: o que é, na
realidade, esse fundamentalismo islâmico? Identifica-se com Maomé e com o
Corão? Caso não se identifique, o que é, então?
De outro lado, por que a esquerda mais ardida no Ocidente, particularmente a
chamada esquerda católica, disfarça mal sua simpatia pelos Talebans
fundamentalistas? Por que 23 Bispos católicos do Brasil, Argentina e México
criticaram duramente os ataques anglo-americanos ao Afeganistão, comparando-os
a atos terroristas, com a agravante, dizem eles, de serem praticados “por
governos que se apresentam como democráticos, civilizados e cristãos”? (“O
Estado de S. Paulo”, 23-10-01). Afinal, por detrás das aparências, existe um fundo comum que une a esquerda progressista ao
fundamentalismo islâmico?
Ossama Bin Laden: foto extraída de vídeo difundido pela TV Al-Jazira, do Qatar.
O terrorista islâmico declarou, na ocasião, a jihad (guerra santa)contra a
Cristandade
Islã: mundo até há pouco desconhecido e pouco significativo para o Ocidente
O afluxo de petrodólares, que deveria significar um avanço do progresso moderno
nos domínios do Islã, parece não ter eliminado essa paralisia. Apenas um
punhado de emires, sheiks e sultões esbanja milhões em luxos exibicionistas, em
geral de mau gosto e freqüentemente imorais, enquanto a massa das populações —
seguindo os ensinamentos do “profeta” — vegeta à sombra do festim dos
hiper-ricaços.
Tornou-se abismal a desproporção entre a organização e a pujança do Ocidente
nascido da Civilização Cristã — embora hoje profundamente apodrecido pelo
neopaganismo — e a desordem e imobilismo da pesada herança de Maomé. No século
XIX, quase todas as terras muçulmanas estavam sob o controle de nações
européias, ricas e dinâmicas.
Se a paralisia não gera movimento, de onde veio esse
dinamismo?
No início do século XX, nesse magma secularmente esclerosado, eclodiu uma
tendência nova chamada fundamentalismo. Ela é
ativa, agressiva, modernizada nas suas técnicas, muitas vezes terrorista.
E, subitamente, passou a ameaçar a ordem mundial ocidental neopaganizada,
ex-cristã, “senhora do universo”.
Diz o adágio popular que “ninguém dá o que não tem”. Como a paralisia não gera
o movimento, dinamismo só poderia vir de quem o tivesse. Um rápido giro pelas
biografias dos líderes islâmicos fundamentalistas mostra que eles, em sua
maioria, formaram-se em universidades do Ocidente ou em equivalentes escolas
ocidentalizadas no Oriente. Seus escritos reproduzem as mesmas idéias que
corroem as bases cristãs das nossas sociedades ocidentais. É como se o vírus
revolucionário ocidental tivesse sido aplicado num caldo de cultura estagnado,
produzindo uma infecção explosiva, com características próprias, mas com a
mesma origem ocidental.
O chefe terrorista Bin Laden é um exemplo característico desse processo de
laboratório da Revolução. Filho de milionários, foi educado no seletíssimo
colégio Le Rosey, na Suíça. Sua juventude foi a de um play-boy do jet-set, em
meio a luxos e escândalos nas capitais ocidentais e na Arábia Saudita1. Sim, do
jet-set, tão a gosto das esquerdas, até das tupiniquins.
Hassan el-Turabi, o ideólogo do regime perseguidor dos cristãos do Sudão,
diplomou-se em Oxford e na Sorbonne. Ali Benadi e Abasi Madani, líderes
fundamentalistas da Argélia, aprenderam suas doutrinas e técnicas subversivas
na Europa. Os sequazes imediatos de Bin Laden também provêm de ambientes cultos
e abastados. A lista é interminável...
O Islã, enquanto crença religiosa, está espalhado por uma imensidade de povos
que vão desde o Atlântico até a Polinésia. O fatalismo e a sensualidade
exacerbada da religião de Maomé lançaram essa parte da humanidade, em larga
medida, no miserabilismo mais radical. Até há pouco, o seu multissecular torpor
era perturbado apenas por disputas locais.
O estudioso francês Roger du Pasquier constata: “Os teóricos de maior
autoridade no seio dos movimentos integristas e ativistas engajados do mundo
muçulmano, apesar de sua recusa formal e superficial do Ocidente, manifestam na
realidade uma contaminação de pensamento das concepções ocidentais modernas”. Que
concepções? Ele esclarece: “As das forças
subversivas que há dois séculos têm provocado tantas revoluções e violências no
Ocidente e no Oriente, até na China” 2. Isto é, o socialismo e o
comunismo, não em suas fórmulas já fracassadas, mas em versões mais atualizadas,
como veremos. Retenha essa idéia, leitor, e verá que ela pode ser a chave para
se compreender muitos dos acontecimentos atuais.
Promotores destacados da Revolução anticristã no Ocidente vêm se tornando
islamitas
Há anos, figuras engajadas na Revolução político-social e cultural que abala os
alicerces cristãos do Ocidente vêm passando para o Islã, sem renunciar às suas
idéias. Por exemplo, Roger Garaudy,
antigo responsável do Partido Comunista Francês para a relação com as
religiões, agora prega o islamismo como via superior para atingir as metas
utópicas de Marx e Lenine. Cat Stevens, pop-star do rock, também perverteu-se e
financia uma ONG islâmica3. O mesmo fizeram, entre outros, o ecologista Jacques Cousteau, o coreógrafo Maurice Béjart, os cantores Richard e Linda
Thompson, o campeão mundial de boxe Cassius Clay,
que ingressou nos Black Muslims, movimento filo-marxista liderado por Malcolm X, outro converso muçulmano.
Primeiras tentativas de inoculação revolucionária no Islã
Nos séculos da estagnação, houve tentativas de reacender o furor anticristão
islâmico. Mas não passaram de casos restritos. Por exemplo, Muhammad Ibn Abdel Wahhab (1703-1787) formou uma
confraria radical — o waabismo — que teria ficado desconhecida se, por ocasião
da Primeira Guerra Mundial, os seus escassos seguidores não se tivessem aliado
à Inglaterra contra a Turquia. Após o conflito, receberam como recompensa o
reino da Arábia Saudita.
Foi no fim do século XIX e no século XX, que cresceu a penetração das idéias revolucionárias
ocidentais no mundo muçulmano. Djamal ed-Din Afghani (1839-1897), a partir de
Londres, atiçou a insurreição iraniana. Muhammad Abduh (1849-1905), seu
continuador, pregou idéias progressistas européias, de tipo anticolonialista.
Na Índia, Sayed Ahmad Kahn (1817-1898), que ostentava o título de Sir inglês,
criou o centro de pensamento nacionalista muçulmano, do qual saíram os pais do
Paquistão (o país dos puros). Um outro Sir inglês, formado em Oxford,
Heidelberg e Munique, admirador de Hegel, Nietzche e Bergson, Muhammad Iqbal
(1873-1938), foi quem formulou a idéia e o nome do atual Paquistão. Ele
elogiava o marxismo e tentou realizar a síntese do socialismo com a doutrina de
Maomé. Seu discípulo, Abdul Ala Maududi (1903-1979), fortemente modernista,
pregou uma terceira via entre capitalismo e comunismo, sendo considerado o pai
do fundamentalismo paquistanês hodierno4.
Da noite para o dia: de Marx a Khomeini
Na famosa revolução de Khomeini, no Irã, iniciada em 1979, numerosos militantes
de esquerda tornaram-se fundamentalistas. O intelectual cristão-marxista Gahli
Chuckri narra: “Entre os aspectos que ainda estão
presentes ante nossos olhos, figura o fato de se ver pensadores conhecidos pelo
seu passado marxista transformarem-se, num abrir e fechar de olhos, em
islamitas convictos. Sim, pensadores que pertencem — pela sua ata de
batismo — ao Cristianismo, transformaram-se, da noite para o dia, em muçulmanos
extremistas; pensadores que pertencem, pela cultura, ao Ocidente e ao
modernismo, viraram orientalistas fanáticos sem nenhuma formalidade nem
restrição!” 5.
O Partido Comunista Iraniano (Tudeh) aprovou a revolução dos aiatolás: “O
conteúdo do processo da evolução histórica toma hoje um aspecto religioso. Para
os marxistas, é perfeitamente natural. Esta revolução anti-imperialista,
antiditatorial e popular foi feita segundo as palavras de ordem do Islã e sob a
direção de um chefe religioso célebre no Irã, o ímã Khomeini” 6.
Voltando de Paris, Khomeini criou a organização terrorista Hezbollah. O
discurso de fundação do organismo foi uma paráfrase do satânico brado de Marx e
Engels — “Proletários do mundo, uni-vos”: “Até hoje — afirmou — os oprimidos
estiveram desunidos, e nada se consegue na desunião. Agora que foi dado um
exemplo da eficácia da união dos oprimidos em terra muçulmana, esse modelo deve
ser difundido por toda parte. ... e tomar o nome de ‘partido dos oprimidos’,
sinônimo de ‘Partido de Deus’, ‘Hezbollah’. Os
oprimidos devem reinar sobre a terra, essa é a vontade do Altíssimo, de Alá” 7.
Como se vê, é o velho marxismo vestido de muçulmano.
Bruno Étienne, professor de islamismo na Universidade de Aix-en-Provence, na
França, explica a afinidade entre Marx e o fundamentalismo: “A luta de classes,
como Engels a tinha previsto, não desemboca na revolução senão quando ela pode
se apresentar em termos religiosos; a finalidade do islamismo radical é bem
terrena: criar um reino igualitário que derrube a arrogância dos proprietários”
8.
Desvendando as profundezas do fundamentalismo
Nada pesou tanto na gênese do fundamentalismo quanto a associação egípcia
Fraternidade Muçulmana, ou Irmãos Muçulmanos.
Ela foi fundada em 1928 por um modesto professor, Hassan al-Banna (1906-1949). “A ressurreição islâmica que se manifesta hoje no mundo
árabe provém direta ou indiretamente da organização dos Irmãos Muçulmanos”,
explica um site islâmico americano que publica a sua biografia9.
Numa obra-chave, al-Banna ensina que o dever dos Irmãos é “expandir o Islã a
todos os recantos do Globo até que não haja mais tumulto nem opressão e que a
religião de Alá prevaleça”. E que o slogan deles deve ser: “A morte nas vias de
Alá deve ser a nossa mais prezada aspiração” 10.
Na Fraternidade, sunitas e shiítas se acotovelam e mantêm uma unidade de ação.
Em 1989, o regime de Teerã divulgou um opúsculo que acumulava exemplos de
concordância e colaboração de sunitas e shiítas radicais, no seio dos Irmãos.
Ele reproduz elogios rasgados da Fraternidade a Khomeini e, viceversa, exalta
al-Banna como grande artesão dessa unidade11.
Em seus primórdios, a organização inclinou-se pelas idéias nazi-fascistas,
nacionalistas, anticapitalistas e antijudaicas, em moda na Europa de então. Tal
componente nunca deixou de existir no movimento fundamentalista, em geral sendo
acrescido de outros elementos12.
O atual líder dos Irmãos Muçulmanos Mustafá Machbour, tendo atrás a foto de
Hasson al-Banna, o fundador dessa organização egípcia, que desempenhou papel
capital na consolidação do fundamentalismo islâmico
Sayyid Qutb — o ‘Gramsci’ do fundamentalismo — faz a releitura
revolucionária do Corão
Ninguém marcou tanto a Fraternidade Muçulmana quanto Sayyid Qutb (1906-1966).
Ele representou para o fundamentalismo o que o italiano Gramsci foi para o
comunismo. Fez com Maomé o que o pensador peninsular fez com Marx: uma
releitura revolucionária.
Nos Estados Unidos, Qutb conheceu o renascimento
pentecostalista protestante, baseado num retorno aos chamados fundamentos.
Daí o fato de o termo fundamentalismo ser aplicado ao novo islamismo, embora
este jamais o empregue.
Qutb revestiu de palavreado corânico as utopias revolucionárias ocidentais. É
preciso, segundo ele, que o Islã volte à sua essência primeira, aos seus
fundamentos. E reformulou tais fundamentos, parafraseando a doutrina anárquica da
desalienação (ninguém deve estar submisso a ninguém).
Em seu livro-base, ensina: “O Islã é uma declaração geral pela libertação do
homem no mundo da dominação por parte de seus semelhantes; a recusa completa do
poder de toda criatura, sob todas as formas; a recusa de toda situação de
dominação por organizações e situações sobre seres humanos, sob qualquer forma
que seja. Quando o poder está em mãos de seres humanos, eles personificam o
Criador e, em conseqüência, seus semelhantes os aceitam. Agora isto é
desconhecer e expropriar o poder de Alá, devendo ser expulsos esses
usurpadores. Isto significa a negação do reinado dos seres humanos, para
substituí-lo por um reinado divino sobre a Terra” 13.
Qutb sabia que um reinado direto de Alá sobre os homens não é praticável. Propunha então um regime intermediário, em que uma
organização pouco visível conduzisse os povos até a hora em que todo governo
cessaria e os homens viveriam em contato direto com Alá. Portanto, uma
concepção análoga à da “vanguarda do proletariado” de Lenine.
Lenin propôs a criação de uma organização pouco visível - a Vanguarda do
Proletariado - para atingir os objetivos da revolução bolchevista
As semelhanças entre o progressismo católico e o fundamentalismo islâmico
Segundo o Corão, Deus revelou-se primeiro a Abraão. Tendo os judeus
prevaricado, comunicou-se a Jesus. Os cristãos também falsificaram a revelação
divina. Então, Deus manifestou-se a Maomé. O Corão seria a mensagem definitiva
insofismável, e Maomé o último dos profetas.
Qutb explica a “apostasia” dos cristãos seguindo o pensamento do progressismo
ocidental. As primeiras comunidades cristãs, segundo ele, teriam tido um
contato direto com Deus, sem intermediários, autoridades nem doutrinas
racionais. Mas o reconhecimento de autoridades hierárquicas e de um Magistério
teológico e pastoral racional trouxe a catástrofe. E acrescenta: “A maior
calamidade foi o triunfo histórico do Cristianismo. Isto aconteceu quando o
Imperador Romano Constantino abraçou a ‘nova religião’”. Além do mais, segundo
Qutb, sucessivos concílios definiram verdades de fé e reforçaram a autoridade
pontifícia14.
Qutb via defensores da “verdadeira religião” nos heréticos arianos, monofisitas
e jacobitas, que foram excomungados pela Igreja. A “apostasia”, de acordo com
sua tese, culminou na Idade Média. Qutb se enfurece contra o monaquismo
medieval, a obediência e a castidade praticadas pelos monges e frades. “Foram
introduzidos no Credo — acrescenta — dogmas abstratos incompreensíveis,
inconcebíveis e incríveis, o mais surpreendente dos quais foi o dogma relativo
à Eucaristia, contra o qual se revoltaram Martinho Lutero, João Calvino e
Zwinglio, lançando as bases do protestantismo”. Ele também execra a Inquisição,
que puniu Giordano Bruno com a morte, e Galileo Galilei com censura
eclesiástica15.
Estátua do Imperador Constantino (séc. IV), Basílica de São João de Latrão,
Roma. Para Sayyid Qutb, autor fundamentalista, membro dos Irmãos Muçulmanos, o
triunfo histórico do Cristianismo foi a maior calamidade. Isto sucedeu, segundo
ele, quando Constantino converteu-se à nova Religião
Nas heresias e nas contestações à Igreja Católica, ele vê sinais precursores de
um retorno à mensagem primitiva do Cristianismo, que estaria na íntegra no
Islã. “A Europa rebelou-se contra o Cristianismo; a Europa rebelou-se contra os
arbítrios dos homens de Igreja”, regozija-se ele. Mas a Europa revoltada ficou
tão marcada pela Igreja, que dela não se pode esperar a “salvação”. O europeu,
segundo ele, em todos os assuntos raciocina logicamente, faz distinções, por
influência da pervertida Igreja16.
Missão do fundamentalismo: completar a Revolução anticristã
Essa é uma das chaves para se entender todo o fenômeno do fundamentalismo
islâmico. Estamos diante da etapa culminante do processo revolucionário,
denunciado e analisado por Plinio Corrêa de Oliveira em Revolução e
Contra-Revolução. Qutb reverencia os “princípios da
Revolução Francesa e os direitos da liberdade individual, no início da
experiência democrática norte-americana”. Porém, lamenta que “esses
valores jamais se desenvolveram plenamente e jamais foram realizados por
inteiro. Eles são insuficientes para enfrentar as exigências de uma humanidade em evolução”. A salvação,
conclui o ideólogo dos Irmãos Muçulmanos, não virá do Ocidente, mas do Islã.
Ele completará o que a rebelião contra o Cristianismo não conseguiu fazer17.
“Isto exige uma operação de ressurreição [islâmica que] será seguida mais cedo
ou mais tarde pela tomada da direção do destino humano no mundo” 18. “O Islã
está destinado para todo o gênero humano: seu campo de ação é a Terra, toda a
Terra” 19, numa República Islâmica Universal, sob
os eflúvios de autoridades religiosas encobertas pelo segredo.
Foto de Nossa Senhora do Atlas, na Argélia, mutilada em 1973, por
fundamentalistas islâmicos. Atentado sacrílego simbólico do ódio anticatólico
dos muçulmanos, bem como da tendência de erradicar da Terra qualquer vestígio
de Cristandade
Erradicar da Terra qualquer vestígio da Cristandade
Eis a finalidade do “retorno aos fundamentos”: enxotar da Terra o último
perfume da Cristandade que ainda paira nos países outrora católicos. Isto é, os
últimos reflexos sobrenaturais na ordem temporal, que se contam entre os frutos
mais preciosos atraídos à Terra pelos méritos da Paixão e Morte de Nosso Senhor
Jesus Cristo.
Qutb expõe uma visão bastante clara do processo revolucionário que, desde a
decadência da Idade Média, vem corroendo a Civilização Cristã. Porém,
acrescenta-lhe um desenlace trágico que muito poucos entreviram: no final da Revolução anticristã não vigorará um mundo de
prazeres e liberdades, no qual a ciência e a técnica eliminariam as doenças e a
guerra, mas um espezinhamento sinistro, material e mental, sob o látego do
fanatismo fundamentalista islâmico.
A revolução que ultrapassa o esclerosado comunismo
Quanto à propriedade privada, o professor Olivier Carré assim resume as máximas
de Qutb: “No Islã, o proprietário jamais tem o direito de usar ou de abusar do
seu bem. No Islã, a propriedade privada é um meio social a serviço das
utilidades comuns” 20.
Mas, então, como explicar o fato de fundamentalistas islâmicos se declararem
anticomunistas?
O aiatolá Baqir as-Sadr — apelidado o Khomeini iraquiano, executado em 1980 —
resolve a dificuldade. Ele sintetiza a doutrina comunista: “O objetivo
inconsciente que o marxismo atribui ao movimento da História consiste na
eliminação dos entraves no caminho do desenvolvimento das forças produtivas.
Este objetivo alcançar-se-á pela abolição da propriedade privada e pela
construção da sociedade comunista”. E, a seguir, introduz a crítica
fundamentalista: “Então, a História deter-se-á após essa liberação, e todas as
potencialidades e o impulso novo do homem deperecerão”. Para evitar que a
evolução pare, explica o aiatolá, é preciso um horizonte novo que empolgue os
homens para irem além do comunismo.
Uma Teologia da Libertação para o mundo islâmico
Esse horizonte novo tem que ser religioso. Diz as-Sadr: “Pôr Alá como objetivo da marcha evolutiva constitui a única
estrutura ideológica que pode oferecer ao movimento humano uma energia
inesgotável” 21. Nesta perspectiva, os comunistas clássicos
representam um esclerosamento e devem ser eliminados. A tarefa agora será feita
por religiosos.
De quebra, o novo horizonte tem outra utilidade. No mundo muçulmano, a
autoridade natural e religiosa dos chefes de clãs, tribos e etnias é levada em
grande consideração. Para os revolucionários era impossível destruir esse resto
de ordem natural apelando para doutrinas laicas modernas, “porque mais cedo ou
mais tarde o movimento novo mostrará a sua verdadeira face de inimigo declarado
da Religião. Isso trará um grande desperdício de energias e exporá a obra em
curso aos perigos que provêm da maioria dos conservadores do mundo islâmico” 22. Essa tarefa só seria viável sob vestes religiosas.
Aliás, mutatis mutandis, o mesmo sucede com o progressismo católico, que, para
objetivos análogos aos dos fundamentalistas muçulmanos, lançou mão da Teologia
da Libertação.
Das “Mil e uma noites” às trevas infernais
O fundamentalismo não visa reacender o mundo das Mil e uma noites, dos tapetes
fascinantes, dos míticos emires e sheiks do deserto, dos minaretes esguios e
elegantes, das mesquitas douradas, do Taj-Mahal. Esse universo de maravilhas
reflete lados positivos desses povos que hoje languescem sob o jugo da falsa
religião de Maomé. Pelo contrário, o fundamentalismo visa também extinguir
essas potencialidades de alma que poderiam desabrochar em civilizações de
fábula, caso se convertessem à única Igreja verdadeira, a Santa Igreja Católica
Apostólica Romana. Ele visa uma terra
proletarizada, miserabilista, em contato com os abismos infernais. E
para isso, por conveniência, recobre-se de aparências antigas e religiosas.
O ditador líbio Muhammad Khadafi ensinou a Roger Garaudy a "tradução
política" do versículo II-136 do Corão.
Revolução igualitária ocidental inoculada no maometanismo: gerado o monstro
fundamentalista
Roger Garaudy, o ex-dirigente do PC francês que se tornou islâmico, narrou suas
conversações com o ditador líbio Muhammad Khadafi, considerado no Ocidente
sustentáculo do terrorismo internacional.
Khadafi ensinou-lhe a “tradução política” do versículo II-136 do Corão: “É uma
democracia direta sem delegação de poder e sem alienação. Nada há de se
substituir ao povo, nem por meio de partidos nem de parlamentos. Democracia
direta através de comitês e congressos populares, que são emanação direta das
empresas, das cooperativas agrícolas, das universidades, das aldeias, dos
bairros” 23. Em poucas palavras, uma atualização do modelo que os sovietes não
realizaram, e que as esquerdas recicladas tentam alcançar sob diversas formas
de autogestão.
As idéias do escritor marxista francês Roger Garaudy, "convertido" ao
islamismo, encontrou grande acolhida na imprensa muçulmana
Em 1995, Garaudy publicou a obra Rumo a uma guerra de religião? — O debate do
século24, com prefácio do ex-frei e teólogo da libertação, Leonardo Boff. O
ex-religioso franciscano elogiava Garaudy como profeta que, com D. Hélder
Câmara, teria colocado as bases de uma convergência cristão-marxista
anticapitalista. E acrescentava que o
fundamentalismo islâmico vive do mesmo fogo libertário da Teologia da
Libertação.
Garaudy anunciou uma “guerra de religião”, não entre a Igreja Católica e o
Islã, mas dos revoltados das religiões contra toda forma de autoridade, porque
esta seria intrinsecamente cúmplice do capitalismo consumista e hedonista.
Efetivamente, o fundamentalismo islâmico integra um
vasto movimento que ultrapassa os limites do maometanismo histórico.
O documentadíssimo Atlas Mundial do Islã Ativista constata que “o renascimento
islâmico não é um fenômeno isolado, mas se inscreve num movimento global de
recusa do materialismo mercador e midiático, que invade o Planeta há três
décadas. Esse movimento tem uma dimensão natural: o da ecologia; e uma
religiosa: o retorno ao fundamental” 25.
O fundamentalismo é objetivamente aliado das forças
do caos, que se manifestaram no Fórum Social Mundial realizado em
Porto Alegre26, nas arruaças de Seattle e Gênova27 e na subversão eclesiástica
progressista.
O fundamentalismo — um fruto do que há de pior no Ocidente — tenta realizar uma
síntese com o Alá de Maomé, ao qual se aplicam as palavras da Escritura: “Omnes
dii gentium daemonia” (Sl 95-5), (Todos os deuses dos gentios são demônios). Essa sinistra convergência lembra a tese de um histórico
artigo publicado em Catolicismo, de autoria do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira:
“Se Oriente e Ocidente se unirem fora da Igreja, só produzirão monstros” 28. O
fundamentalismo islâmicoe o pavoroso atentado de 11 de setembro constituem uma
espantosa confirmação dessa tese.
Islamismo: origem, doutrina e divisões internas
O islamismo (Islã significa submissão) foi fundado por
Maomé (570-632 d.C.), na península arábica. Guarda de camelos, analfabeto e
supersticioso, Maomé casou-se com uma rica viúva hebréia de nome Kadija e
adotou a crença numa divindade única, de tipo judaico. Segundo a tradição
islâmica, teve revelações numa caverna, em Hira. Reuniu seguidores e
apoderou-se de Medina, próspera cidade vizinha de Meca.
O fundador do islamismo difundia cânticos que misturavam
elementos da Bíblia com textos dos evangelhos apócrifos, do Talmud, de lendas
do deserto e da própria vida. Foram eles reunidos no Corão (Livro) em 657, sem
ordem lógica nem cronológica. Existe ainda a sharia (lei), não escrita e
secreta, e os hadits(ditos ou feitos de Maomé). Khomeini, o aiatolá líder da
revolução iraniana iniciada em 1979, reuniu mais de um milhão desses ditos, uns
verdadeiros, outros falsos, mas todos geralmente aceitos pelos adeptos de todas
as correntes do islamismo.
Impôs cinco obrigações básicas: 1 — Profissão de fé; 2 —
Jejum anual de um mês (o Ramadã); 3 — Peregrinação a Meca, pelo menos uma vez
na vida; 4 — Cinco orações diárias; 5 — Esmola ritual. Ainda há o dever da
jihad, ou guerra santa.
É oportuno citar aqui a opinião de Santo Tomás de Aquino,
o grande Doutor da Igreja, sobre o fundador do islamismo: “Maomé seduziu os
povos prometendo-lhes deleites carnais. …. Introduziu entre as poucas coisas
verdadeiras que ensinou muitas fábulas e falsíssimas doutrinas. Não aduziu
prodígios sobrenaturais, único testemunho adequado da inspiração divina. ….
Afirmou que era enviado pelas armas, sinais estes que não faltam a ladrões e
tiranos. Desde o início, não acreditaram nele os homens sábios nas coisas
divinas e experimentados nestas e nas humanas, mas pessoas incultas, habitantes
do deserto, ignorantes de toda doutrina divina. E só mediante a multidão
destes, obrigou os demais, pela violência das armas, a aceitar a sua lei.
Nenhum oráculo divino dos profetas que o precederam dá testemunho dele; ao
contrário, ele desfigura totalmente o Antigo e Novo Testamento, tornando-os um
relato fantasioso, como o pode confirmar quem examina seus escritos. Por isso,
proibiu astutamente a seus sequazes a leitura do Antigo e Novo Testamento, para
que não percebessem a falsidade dele” (“Summa contra Gentiles”, L. I, c. 6).
No seio do maometanismo proliferam centenas de seitas,
sendo duas as principais: a sunita (que significatradição, a qual congrega 90%
dos islâmicos) e a shiita(que significa partido de Ali, e reúne 10%). Essa
divisão principal nasceu de uma disputa pela sucessão de Maomé. Em 656, Ali,
discípulo e genro de Maomé, foi eleito quarto califa (líder supremo da
comunidade islâmica, após Maomé), mas acabou sendo deposto e refugiou-se na
Pérsia, onde criou o shiismo.
No Ocidente, identifica-se impropriamente shiita
comfundamentalista e sunita com moderado. Na realidade, há fundamentalistas (no
sentido de radicais) emoderados nas duas correntes. Bin Laden e a corrente
radical que domina politicamente a Arábia Saudita sãosunitas. No Irã, a
revolução iniciada por Khomeini foiradical durante vários anos. Nas duas
últimas eleições presidenciais, venceram os moderados. O Presidentemoderado
Khatami governa à sombra do supremo líder espiritual radical Khamenei. O
islamismo, por sua natureza, é violento, intolerante e invasor. As Cruzadas,
algumas delas convocadas por Papas, Santos e Concílios, puseram-lhe freio.
Notas:
1. Cfr. “O Globo”, 25-9-2001; “O Estado de S. Paulo”,
30-9-2001.
2. Roger du Pasquier, Le Réveil de l’Islam, Cerf, Paris,
col. Bref, p. 34.
3. http://www.catstevens.com/articles/00009/index.cfm
4. Cfr. du Pasquier, op. cit., pp. 56-64.
5. Ghali Chuckri, “Al Bayadir”, nº 11, 1-2-82, in Al Hoda
— Teheran branch,El sunnismo y el shiismo: una querella artificial y una
provocación pérfida, Teerã, 1989, p. 34.
6. Ehsan Tabari, Le rôle de la religion dans notre
révolution, “La Nouvelle Revue Internationale”, nº 12 (292), dezembro 1982, pp.
88-89.
7. In Atlas mondial de l’islam activiste, La Table Ronde,
Paris, 1991, p. 234.
8. Bruno Étienne, L’islamisme radical, Hachette, Paris,
1987, p. 327.
9. http://www.jannah.org/articles/hassan.html.
10. Six tracts of Hasan Al-Banna, International Islamic
Federation of Student Organizations, Kuwait, s/d, pp. 16-18.
11. Al Hoda, op. cit.
12. Veja-se por exemplo: Shaykh Abdul Qader Al-Murabit,
Para el hombre que viene, Ediciones Ribat, Granada-México-Chicago, 1988. O
autor se auto-intitula sheik, mas é um escocês chamado Ian Dallas. Ele fundou
em Norwich o Movimento Morabitun, nome de uma histórica confraria
místico-guerreira do Norte da África — os almorávidas. Seus membros são, em
significativo número, ex-hippies e cultuadores frustrados da droga. No livro,
Abdul Qader justifica o III Reich, e julga que não este não obteve a
“libertação” total do homem, devido à oposição judaica-capitalista-usurária.
Não critica o comunismo pelo seu lado igualitário e nivelador, mas porque teria
sido excogitado por judeus. A “libertação” do homem exige, segundo ele, a
extinção do consumismo capitalista. E a via para isso, agora, seria o Islã.
13. Sayyid Qutb, Jalons sur la route de l’Islam,
International Islamic Federation of Student Organizations, Kuwait, s/d, 293
pp., pp. 96-97.
14. Sayyid Qutb, Il futuro sarà dell’Islam, International
Islamic Federation of Student Organizations (Kuwait) / The Holy Coran
Publishing House (Beirut), 1980, 42-44.
15. Id. ibid., pp. 51-57.
16. Id. ibid., pp 63-64.
17. Id. ibid., pp. 63-67.
18. Id. ibid., p. 15.
19. Id. ibid., p. 100
20. Olivier Carré, Mystique et politique — Lecture
révolutionnaire du Coran par Sayyid Qutb Frère Musulman radical, Les Éditions
du Cerf / Presses de la Fondation Nationale des Sciences Politiques, Paris,
1984. p. 149.
21. Baqir as-Sadr, sem título, Al-Hoda Teheran branch,
Teerã, 1989, pp. 9-10.
22. Baqir as-Sadr, id. ibid., p. 27.
23. Roger Garaudy, Appel aux vivants, Seuil, Paris, 1979,
pp. 294-295.
24. Desclée de Brouwer, Paris, 1995.
25. Atlas Mondial de l’Islam Activiste,Institut de
Criminologie de Paris — Centre de Recherche sur la Violence Politique, La Table
Ronde, Paris, 1991, p. 14.
26. Cfr. Catolicismo, nº 603, março 2001.
27. Cfr. Catolicismo, nº 609, setembro 2001.
28. Cfr. Catolicismo, nº 106, outubro 1959.
Extraído da Revista Catolicismo, Novembro de 2001
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